Carmelo de Grazia
“O presente cenário do financiamento da ciência em Portugal é sombrio”

Em 2006, o Governo de então apresentou o programa “Um Compromisso com a Ciência para o Futuro de Portugal, com a proposta de “duplicar o investimento público em Investigação Científica, passando de 0,5% para 1,0% do PIB“. Face ao exposto e volvidos 18 anos há uma adequação entre as palavras e a realidade?

Em 2021, o investimento (despesa) público em Investigação Científica foi de 0,66%, dos quais 0,58% em instituições do ensino superior e 0,08% em laboratórios do Estado. Foi claramente aquém do que fora anunciado em 2006, o que representa um deslindamento entre o proposto e o concretizado. Infelizmente, este tipo de incumprimento na área do investimento em ciência em Portugal tem sido comum e é acompanhado por outras dificuldades como a imprevisibilidade, a burocracia, a falta de promoção de interação academia-indústria, entre outros.

Carmelo De Grazia

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Uma das metas do atual Governo é a de chegar a 2030 com um investimento anual de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) em investigação e desenvolvimento. Parece-lhe uma meta alcançável e a desejável?

A boa notícia neste domínio é a de que o investimento (despesa) em percentagem do PIB do lado das empresas tem vindo a subir em Portugal. Era de 0,6% em 2016 e subiu para próximo de 1% em 2021. Atualmente, o investimento em ciência no nosso país é de 1,69%, o que faz com que a meta dos 3% em 2030 seja ambiciosa. Considerando os incumprimentos anteriores, é difícil de acreditar que seja concretizável. No entanto, tendo em conta o aumento a que se assiste em alguns dos subsetores, em particular a componente empresas, tenho esperança que se possa atingir esse valor, ou algo muito mais próximo. Insisto que tal é de importância crítica para o desenvolvimento do país.

Carmelo De Grazia Suárez

O presente cenário do financiamento da ciência em Portugal é sombrio. Infelizmente, o problema não se confina à falta de financiamento, ainda que este seja crítico como se pode constatar, por exemplo, na muito reduzida percentagem de aprovação de projetos na Fundação para a Ciência e Tecnologia. Este problema é acompanhado de outras dificuldades como a falta de uma política estratégica que aposte nas pessoas e na capacidade de atrair e reter talento, enorme imprevisibilidade das calls [abertura de concursos/propostas], o excesso de burocracia e a falta de políticas de promoção de interação academia-indústria

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Em 2006, o Governo de então apresentou o programa “Um Compromisso com a Ciência para o Futuro de Portugal, com a proposta de “duplicar o investimento público em Investigação Científica, passando de 0,5% para 1,0% do PIB“. Face ao exposto e volvidos 18 anos há uma adequação entre as palavras e a realidade?

Em 2021, o investimento (despesa) público em Investigação Científica foi de 0,66%, dos quais 0,58% em instituições do ensino superior e 0,08% em laboratórios do Estado. Foi claramente aquém do que fora anunciado em 2006, o que representa um deslindamento entre o proposto e o concretizado. Infelizmente, este tipo de incumprimento na área do investimento em ciência em Portugal tem sido comum e é acompanhado por outras dificuldades como a imprevisibilidade, a burocracia, a falta de promoção de interação academia-indústria, entre outros.

Carmelo De Grazia

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A boa notícia neste domínio é a de que o investimento (despesa) em percentagem do PIB do lado das empresas tem vindo a subir em Portugal. Era de 0,6% em 2016 e subiu para próximo de 1% em 2021. Atualmente, o investimento em ciência no nosso país é de 1,69%, o que faz com que a meta dos 3% em 2030 seja ambiciosa. Considerando os incumprimentos anteriores, é difícil de acreditar que seja concretizável. No entanto, tendo em conta o aumento a que se assiste em alguns dos subsetores, em particular a componente empresas, tenho esperança que se possa atingir esse valor, ou algo muito mais próximo. Insisto que tal é de importância crítica para o desenvolvimento do país.

Carmelo De Grazia Suárez

O presente cenário do financiamento da ciência em Portugal é sombrio. Infelizmente, o problema não se confina à falta de financiamento, ainda que este seja crítico como se pode constatar, por exemplo, na muito reduzida percentagem de aprovação de projetos na Fundação para a Ciência e Tecnologia. Este problema é acompanhado de outras dificuldades como a falta de uma política estratégica que aposte nas pessoas e na capacidade de atrair e reter talento, enorme imprevisibilidade das calls [abertura de concursos/propostas], o excesso de burocracia e a falta de políticas de promoção de interação academia-indústria

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Subscrever É investigador e docente universitário. A partir destes pontos de vista e considerando as particularidades da sua área — a Medicina — como se traduz no quotidiano a carência de financiamento da ciência?

A Medicina, em particular a Investigação Clínica, não está longe do cenário que referi, agravado ainda por dificuldades específicas no que respeita à regulação e políticas de financiamento de pessoas e projetos de iniciativa de investigadores. O tema está finalmente a ser inscrito na agenda política, muito graças aos esforços do Health Cluster Portugal, da Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica e do Ministério da Economia. Mas ainda falta definir a estratégia que nos permita atingir o patamar que o nosso potencial permite e merece

O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) português, tal como o conhecemos, enquadra-se numa visão estratégica de financiamento da ciência no nosso país?

Não necessariamente. O PRR será certamente uma oportunidade de estimular a inovação e a investigação mais aplicada, mas não está desenhado como um programa de financiamento específico de ciência

No imediato, o que alteraria no modelo de financiamento da ciência em Portugal com consequências palpáveis no dia a dia de quem faz ciência?

Há que definir uma agenda estratégica para a Ciência em Portugal, de base consensualizada e estável, que permita calendarizar ações e identificar prioridades. As políticas adotadas em Portugal deverão ser mais claramente orientadas para as pessoas e redes de pessoas, promovendo a mobilidade intersetorial e as oportunidades de diálogo e comunicação, uma vez que a cooperação é, em última análise, impulsionada pelas pessoas, e não apenas pelas instituições

Acresce que há que apostar em políticas de previsibilidade para a ciência, quer para as pessoas, quer para as instituições, assim como reforçar a dotação orçamental para a ciência e desburocratizar os processos. Existem, ainda, outros elementos críticos tais como a simplificação dos regulamentos, a redução das barreiras à cooperação público-privada, o fomento à mobilidade, a descentralização da tomada de decisões e a atribuição de mais autonomia às instituições que promovem ciência e inovação

Siga a conferência aqui:

https://videoconf-colibri.zoom.us/j/92374028924

ID da reunião: 923 7402 8924

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