Nome de Paulo Raimundo foi recebido com “alguma surpresa” no Comité Central do PCP, como confessou Jerónimo de Sousa
Sábado, 5 de novembro
PCP troca de líder com enorme desafio pela frente Num dia que estava, até então, a ser marcado pelos recados de Marcelo à ministra Ana Abrunhosa sobre a execução do fundos europeus – primeiro diante de “milhares de testemunhas” na Trofa, depois de braço dado com a governante e ao lado do líder da oposição, Luís Montenegro, e, finalmente, alargando o espectro a todo o governo, numa declaração à margem de um Encontro Nacional de Cuidadores Informais… -, a maior surpresa estava reservada para a noite, quando o PCP anunciou a saída de Jerónimo de Sousa e comunicou a escolha de Paulo Raimundo para secretário-geral. Perante a desconfiança dos portugueses face às posições do partido em relação à guerra na Ucrânia; sem o mediatismo de outros nomes como João Ferreira ou João Oliveira; sem assento no parlamento e sem a força dos números a seu favor (o PCP está hoje limitado a seis deputados e o seu eleitorado tem vindo a diminuir desde que participou na geringonça, passando dos 445 980 votos das legislativas de 2015 para 238 962 nas de 2022), Paulo Raimundo, homem do aparelho comunista , terá de agarrar-se, mais do que nunca, à influência que o PCP ainda tem no sindicalismo para, pelo menos, tentar liderar a contestação popular nas ruas contra a ação do Executivo. Essa capacidade de mobilização foi sempre um trunfo comunista para garantir peso político na sociedade e manter em alerta os diferentes governos. Se a perder, a erosão do seu eleitorado tradicional será ainda mais rápida e o PCP dificilmente terá como evitar o destino de outros partidos comunistas na Europa, como em Espanha, França ou Itália: a irrelevância.
Nome de Paulo Raimundo foi recebido com “alguma surpresa” no Comité Central do PCP, como confessou Jerónimo de Sousa.
© ANDRÉ ROLO/GLOBAL IMAGENS
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Explicações, inconfidências e uma convição de Jerónimo Domingo, logo pela manhã, Jerónimo de Sousa explicou, numa longa conferência de Imprensa , os motivos que o levaram a deixar a liderança do PCP, num momento crítico para a vida do partido, após 18 anos como secretário-geral. Vincando que deixa o cargo por iniciativa própria, aos 75 anos, por razões de saúde e “sequelas” de uma intervenção cirúrgica, o único deputado da Assembleia Constituinte que ainda se mantinha no parlamento salientou que sai “de consciência tranquila”, no “mesmo plano económico e financeiro” com que entrou, convencido que fez “sempre o melhor que sabia”. Jerónimo fez até (raras) revelações sobre os bastidores do Comité Central comunista, como o facto de ter sido “aplaudido de pé durante quatro minutos”, já depois do nome de Paulo Raimundo para secretário-geral ter causado “alguma surpresa” na reunião e o mesmo ter merecido não a unanimidade mas antes “uma ampla convergência” entre os intervenientes. Sobre o sucessor, deixou uma convicção: “É um homem sensível que compreende as coisas de uma forma célere. (…) Uma solução segura, que corresponde às necessidades do partido. Tenho a profunda confiança de que ele vai ser capaz de dar conta do recado”.
Após 18 anos no cargo, Jerónimo de Sousa deixa de ser o secretário-geral comunista “por iniciativa própria” na sequência de problemas de saúde.
© ANDRÉ KOSTERS/LUSA
Segunda-feira, 7 de novembro
COP 27. “Cooperar ou morrer”, diz Guterres “A humanidade tem uma escolha: cooperar ou morrer. É um Pacto de Solidariedade Climática ou um Pacto de Suicídio Coletivo”. António Guterres não teve meias palavras ao dirigir-se aos líderes mundiais na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas de 2022 ( COP27 ), reunida em Sharm el-Sheikh (Egito). O português, secretário-geral da ONU, classifica o combate às alterações climáticas como “a questão definidora” do nosso tempo, “o desafio central do século”, pedindo às economias desenvolvidas e emergentes “um esforço extra” para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa: “Estamos perigosamente perto do ponto sem retorno”. Um esforço que também passa por investimento financeiro, como por exemplo 3,1 mil milhões de dólares, entre 2023 e 2027, para que se concretize o Plano de Ação de Alerta Precoce, que forneça a toda a população do Mundo informação que permita antecipar tempestades, ondas de calor, inundações e secas.
Os fenómenos climáticos extremos são cada vez em maior número. ONU quer implementar Plano de Ação de Alerta Precoce para toda a população mundial.
© GIORGIO VIERA/AFP
Terça-feira, 8 de novembro
EUA votaram e deram sinal negativo a Trump Os nomes de Joe Biden e Donald Trump não constavam dos boletins de voto das eleições intercalares dos Estados Unidos, mas foram eles os principais protagonistas das várias leituras que se fizeram dos resultados já conhecidos. Ainda com as contagens em curso e sem estar definido quem controlaria a Câmara dos Representantes e o Senado, Biden pôde falar de ” um bom dia para a democracia na América “, já que não se confirmou a “onda vermelha” e o partido democrata esteve longe de ser atropelado pelos republicanos nas urnas (a tendência nas intercalares é castigar o partido no poder). Já Trump, atolado em processos judiciais, deve ter ficado com os cabelos em pé quando ouviu uma das suas mais ferozes apoiantes, Kayleigh McEnany (sua antiga porta-voz), dizer na outrora tão trumpista Fox News que o ex-presidente deveria refrear os ânimos e não anunciar nada antes da 2.ª volta das eleições no estado da Geórgia, que só terá lugar a 6 de dezembro (na 1.ª volta, o democrata Warnock ficou à frente do candidato apoiado por Trump, Herschel Walker). O que está em causa é o “grande anúncio” que Trump prometeu para 15 de novembro, insinuando que se trataria de confirmar a candidatura à nomeação republicana para as presidenciais de 2024. Às derrotas de alguns candidatos expressamente apoiados por Trump, juntou-se a vitória folgada de Ron DeSantis na reeleição como governador da Florida. DeSantis, antigo protegido de Trump, já mostrou interesse em questionar a suposta hegemonia do antigo presidente entre republicanos e tem vindo a ganhar força junto do eleitorado conservador com discurso e políticas marcadamente antiemigração, antiaborto e pró-armas. Avançando contra Trump, é certo que irá, pelo menos, dividir apoios no partido, quando do lado democrata a união em torno de Biden saiu reforçada.
Plano de Donald Trump para regressar à Casa Branca, em 2024, sofreu revés após as eleições intercalares. E é quase certo que terá concorrência de Ron DeSantis entre os republicanos.
© EPA/JIM LO SCALZO
Quarta-feira, 9 de novembro
Gal Costa. Brasil perde a sua voz cristalina A MPB (Música Popular Brasileira) perdeu um dos seus maiores nomes com a morte de Gal Costa, aos 77 anos. A cantora baiana que deu voz a Modinha para Gabriela , tema de abertura da primeira telenovela brasileira emitida em Portugal ( sucesso de audiências que condicionava até o funcionamento do parlamento ), chegou a ser classificada por João Gilberto (“pai” da Bossa Nova) como a “maior voz do Brasil“. “Descoberta” por Caetano Veloso e Gilberto Gil, formaria com eles (e com Maria Bethânia) o grupo Doces Bárbaros para uma digressão pelo Brasil que ficaria registada em documentário e disco gravado ao vivo que se tornaria um clássico da música brasileira. MPB, Bossa Nova, Tropicália, Samba e até Rock, foram vários os estilos musicais que Gal Costa abraçou, sendo precisamente reconhecida pelos pares pela capacidade de se reinventar, quer a si própria, quer dando nova vida a trabalhos de outros autores, quebrando tabus ao longo dos 57 anos de carreira .
Gal Costa deixa também uma legião de fãs em Portugal: na imagem, um concerto em 2013, no Coliseu do Porto.
© PEDRO GRANADEIRO/GLOBAL IMAGENS
Quinta-feira, 10 de novembro
Santos já tem os seus 26. E todos acreditam no título mundial Catapultados pelo excelente início de época ao serviço do Benfica, em que conseguiram tornar-se peças chave na até agora invencível equipa de Roger Schmidt, Gonçalo Ramos e António Silva viram ser-lhe aberta por Fernando Santos a porta do Mundial 2022 , mesmo não tendo somado até aqui qualquer jogo pela seleção nacional A (o mesmo acontece com o guarda-redes José Sá). A chamada da jovem dupla do Benfica acabou por ser a única (meia) surpresa entre os 26 eleitos do selecionador nacional, onde se destaca a armada inglesa (10 jogadores disputam atualmente a melhor Liga do Mundo) e o facto de o Sporting não ter qualquer atleta entre os sete provenientes do campeonato português (3 do FC Porto, 3 do Benfica e um do Sp. Braga), restando-lhe o (magro) consolo de no Qatar estarem oito futebolistas que fizeram a maior parte do seu trajeto de formação na Academia leonina. Entre estes está, como é evidente, o capitão português Cristiano Ronaldo, um dos primeiros a reagir nas redes sociais à convocatória: “Uma vez mais, prontos para elevar bem alto o nome de Portugal! São 26 os nomes na lista do Mister Fernando Santos, mas estamos todos convocados! Força Portugal!”. A seleção nacional, que tenta juntar um inédito título mundial ao Europeu conquistado em 2016 e à Liga das Nações de 2019, estreia-se no próximo dia 24, frente ao Gana. E Fernando Santos, sendo um homem de fé, questionado sobre o que vale esta equipa, lá adiantou: “Acredito que é possível sermos campeões do Mundo. Os jogadores também”.
Benfiquistas Gonçalo Ramos e António Silva foram chamados ao Mundial sem qualquer jogo pela seleção A.
© PATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP
Sexta-feira, 11 de novembro
Ucrânia festeja retirada russa de Kherson “Às 05.00, hora de Moscovo [menos três em Lisboa], foi concluída a redistribuição das tropas russas para a margem esquerda do rio Dniepre”. Foi assim que o ministério da Defesa da Rússia assumiu uma das suas maiores derrotas desde iniciou a invasão à Ucrânia, a 24 de fevereiro. As forças militares de Moscovo foram incapazes de suster a contraofensiva ucraniana na região Kherson (uma das quatro que a Rússia anexou a 30 de setembro, depois de já ter feito o mesmo na Crimeia em 2014) e viram-se obrigadas a recuar e abandonar à pressa a capital, sendo já ontem partilhadas as primeiras imagens que mostravam bandeiras da Ucrânia no centro da cidade. Um revés ainda maior por acontecer já depois de Putin ter mobilizado cerca de 300 mil reservistas para tentar travar, precisamente, a retomada de territórios por parte da Ucrânia. Kiev fala numa “vitória importante”, mas mantém-se cautelosa em relação ao que a Rússia pode fazer depois deste reagrupamento de tropas, até tendo em conta a forma como reagiu à retirada o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, citado pela AFP, mantendo que a região de Kherson “é uma questão da Federação russa” e que, nesse aspecto, “não pode haver mudança”.
Contraofensiva ucraniana obrigou russos a deixar a cidade de Kherson.
© EPA/STANISLAV KOZLIUK